Um minuto.
È suficiente um minuto, apenas um minuto para cegar e afastar-nos da humildade da nossa jornada.
Num minuto escuto devaneios e insultos para quem um acto o ofendeu, observo lamúrias e tristezas de quem acordou insatisfeito com o espelho ou desejos de beleza, de quem se mascara para esconder-se.
De que vale escrever sobre a perda de um emprego, uma viagem, casa ou carro, de um familiar ou de um amor quando estamos perdidos?
Porquê cortar lenha senão vemos a fogueira? De que vale percorrer mapas ou escutar gps se perdemos a nossa bússola?
Porquê chorar por medos que chegarão amanha, se o importante é o sorriso de agora?
DE que vale planear o futuro se talvez, quem sabe (?), no próximo minuto percorrermos as escadas da Temperança?
Há quem busque um tesouro e descure a importância do caminho percorrido até ele e quem se canse em descobrir como regressar ao passado.
O mundo morre ao seguirmos a sombra de quem nos rodeia, construindo passos em areias movediças. Num minuto, destrói-se a sociedade por perdas de afecto e lacunas de emancipação. Num minuto, desabam as escadas da personalidade e ausculta-se a solidão mas... em segundos vagueiam seres de luz que te procuram.
Procuro pelas perdas que revelam e afago lágrimas de quem ao meu colo desabafa. Procuro por quem vive e não por quem apenas respira.
Procuro para ofertar a beleza de uma manhã de Natal e …
Procuro quem encontrar, hoje ou amanhã talvez, o brilho do esquecimento e a ingenuidade de um olhar.
autora: eu escrito para Fábrica de Histórias